Esse
amor bate em nós como os frêmitos primordiais das células do corpo e
como as fusões nucleares das galáxias; esse amor cria em nós a sensação
do Ser, que só é perceptível nos breves instantes em que entramos em
compasso com o universo.
Nosso amor é uma reprodução ampliada da cópula
entre o espermatozóide e óvulo se interpenetrando. Por obra do amor,
saímos do ventre e queremos voltar, queremos uma "reintegração de posse"
de nossa origem celular, indo até a dança primitiva das moléculas.
Somos grandes células que querem se re-unir.
O amor também. Melhor dizendo: o amor é essa tentativa de atingir o
impossível, se bem que o "impossível" é indesejado hoje em dia; só
queremos o controlado, o lógico. O amor anda transgênico, geneticamente
modificado, fast love.
"o amor vive da incompletude e esse vazio justifica a poesia da entrega. Ser impossível é sua grande beleza. Claro que o amor é também feito de egoísmos, de narcisismos mas, ainda assim, ele busca uma grandeza - mesmo no crime de amor há um terrível sonho de plenitude. Amar exige coragem e hoje somos todos covardes".
"o amor vive da incompletude e esse vazio justifica a poesia da entrega. Ser impossível é sua grande beleza. Claro que o amor é também feito de egoísmos, de narcisismos mas, ainda assim, ele busca uma grandeza - mesmo no crime de amor há um terrível sonho de plenitude. Amar exige coragem e hoje somos todos covardes".
Mas, o fundo e inexplicável amor acontece quando você "cessa", por brevíssimos instantes. A possessividade cessa e, por segundos, ela fica compassiva. Deixamos o amado ser o que é e o outro é contemplado em sua total solidão. Vemos um gesto frágil, um cabelo molhado, um rosto dormindo, e isso desperta em nós uma espécie de "compaixão" pelo nosso desamparo.
Esperamos do amor essa sensação de eternidade. Queremos nos enganar e achar que haverá juventude para sempre, queremos que haja sentido para a vida, que o mistério da "falha" humana se revele, queremos esquecer, melhor, queremos "não-saber" que vamos morrer, como só os animais não sabem. O amor é uma ilusão sem a qual não podemos viver.
Como os relâmpagos, o amor nos liga entre a Terra e o céu. Mas, como souberam os grandes poetas como Cabral e Donne, a plenitude do amor não nos faz virar "anjos", não. O amor não é da ordem do céu, do espírito. O amor é uma demanda da terra, é o profundo desejo de vivermos sem linguagem, sem fala, como os animais em sua paz absoluta. Queremos atingir esse "absoluto", que está na calma felicidade dos animais.
Arnaldo Jabor
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