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23/11/2012

Saudade



Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces, porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto._No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida e eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz._Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado._Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado._Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada._Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite._Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa._Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço._E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado._Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos._Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir._E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.

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