26/05/2012

Ah! quem há de exprimir - Olavo Bilac

Amor: 5


Ah! quem há de exprimir, alma impotente e escrava, 
O que a boca não diz, o que a mão não escreve? 
— Ardes, sangras, pregada à tua cruz, e, em breve, 
Olhas, desfeito em lodo, o que te deslumbrava... 
O Pensamento ferve, e é um turbilhão de lava; 
A Forma, fria e espessa, é um sepulcro de neve... 
E a Palavra pesada abafa a ideia leve, 
Que, perfume e clarão, refulgia e voava.
Quem o molde achará para a expressão de tudo? 
Ai! quem há de dizer as ânsias infinitas 
Do sonho? e o céu que foge à mão que se levanta?
E a ira muda? e o asco mudo? e o desespero mudo? 
E as palavras de fé que nunca foram ditas? 
E as confissões de amor que morrem na garganta?


Olavo Bilac
Corações: 7

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