Quando te quero ver, cerro as pálpebras e,
Concentrando a visão, fico a pensar em ti.
Aos olhos vem-me assim, num sonho ingênuo e doce,
A tua imagem fiel, como se viva fosse.
E eu sinto bem que és tu, que emerges do meu ser,
Numa névoa fugaz, para eu te poder ver.
Névoa que se faz luz, sombra que se ilumina,
Vens espiritualmente assomar à retina...
Surges no coração, onde hoje vives, pois
Sobes ao pensamento e ao olhar vens depois.
Tens em tudo a expressão que no mundo tiveste,
Tenha embora a beleza um encanto celeste.
Mas, em forma incorpórea, és tu mesma, porque
Como te vi em vida a alma em sonho te vê.
E é tão viva a impressão que ninguém se persuade
De que a vida se extinga, existindo a saudade...
Não pode ser engano a visão interior
Que os olhos vêem sem ver, por milagre do amor.
Quem sabe há no meu ser um espelho encantado,
Onde indelével se reflete o meu passado!
Acaso há dentro em mim uma fonte de luz,
Que a tua vida em minha vida reproduz!
É por isso, talvez, que em vago encantamento,
Eu me deixo levar pelo meu pensamento.
E, se te quero ver, fecho os olhos e, então,
Em silêncio me entrego a essa amada ilusão...
Da Costa e Silva
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