05/08/2012
Devora-te a escuridão
Devora-te a escuridão.
Percorrendo cada esquina, cada rua
e os cães conhecem-te o olhar
onde o líquido fel e o sabor a sangue
te inunda os lábios pelo despertar
de todas as manhãs.
Danças pela noite fora
como se o tempo te pertencesse
e lírios azuis florescem dos teus gestos,
tão absurdos e inúteis
como a tua valsa nos braços da noite.
Guardo a tua imagem nua e
etéreo corpo bebendo a luz,
tão perto da água e as estrelas reflectem
o teu improvável destino. Já não vês a vida.
O teu olhar sobrevoa a areia
do calcinado deserto. Não há esquecimento.
E são os dedos dóceis, embora firmes,
da tua solidão a escrever as cicatrizes
na tua pele os mapas da desolação,
onde retiras o alimento do teu destino.
Sem olhar para trás. E danças pela escuridão adentro
com vidros atravessando as pálpebras do teu sono.
Maria João Cantinho
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