Vai passar, tu sabes que vai passar.
Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O
verão está ai, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa
coisa chamada “impulso vital”. Pois esse impulso às vezes cruel, porque
não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem
sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de
repente, no meio de uma frase ou de um movimento te supreenderás
pensando algo como “estou contente outra vez”. Ou simplesmente
“continuo”, porque já não temos mais idade para, dramaticamente, usarmos
palavras grandiloqüentes como “sempre” ou “nunca”. Ninguém sabe como,
mas aos poucos fomos aprendendo sobre a continuidade da vida, das
pessoas e das coisas. Já não tentamos o suicidio nem cometemos gestos
tresloucados. Alguns, sim – nós, não. Contidamente, continuamos. E
substituimos expressões fatais como “não resistirei” por outras mais
mansas, como “sei que vai passar”. Esse o nosso jeito de continuar, o
mais eficiente e também o mais cômodo, porque não implica em decisões,
apenas em paciência.
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