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13/10/2012

Balada do Amor


Eu te gosto, você me gosta
desde tempos imemoráveis.
Eu era grego, você troiana,
troiana mas não Helena.
Saí do cavalo de pau
para matar seus irmãos.
Matei, brigamos e morremos.

Virei soldado romano,

perseguidor de cristãos.
Na porta da catacumba
encontrei-te novamente.
Mas quando ví você nua
caída na areia do circo
e o leão que vinha vindo...
dei um pulo desesperado 
e o leão comeu nós dois.

Depois fui pirata mouro,

flagelo da Tripolitânia.
Toquei fogo na fragata 
onde você se escondia
da fúria do meu bergatim.
Mas quando ia te pegar
e te fazer minha escrava,
você fez o sinal-da-cruz
e rasgou o peito a punhal.
Me suicidei também.

Depois fui cortesão de Versailles

espirituoso e devasso.
Você cismou de ser freira
pulei o muro do convento.
Mas complicações políticas 
nos levaram à guilhotina.

Hoje sou moço moderno.

Remo, pulo, danço e boxo.
Você é uma loucura notável.
Boxa, dança, pula e rema.
Seu pai é que não faz gosto
mas depois de mil peripércias.
Eu, herói da Paramount
te abraço, te beijo e casamos.


Carlos Drummond de Andrade

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